7 de novembro de 2013

Novo prefeito de Nova York promete um radical combate à desigualdade social. O que podemos aprender com isso?

Domingo foi Montreal, e terça-feira Nova York. As duas cidades mudaram de prefeito. Sobre as eleições de Montreal já falei aqui. Mas é Nova York que é o caso interessante, porque Bill de Blasio, o novo prefeito, venceu com um discurso raro nos Estados Unidos e importantíssimo para qualquer cidade do mundo: governar para os mais pobres.
O democrata sucede a Michael Bloomberg, o multimilionário republicano que governou a cidade por 12 anos. Não que a gestão Bloomberg tenha sido ruim. Na verdade foi importantíssima, e melhorou em muito a qualidade de vida e a economia da cidade, mas é fato que Bloomberg não governou para o pobres. E eles são muitos, em Nova York: 46% da sua população, sendo que 20% vivem abaixo da linha de pobreza e, dentre esses, há 50 mil sem abrigo.
O New York Times comentou: “Ele deu voz aos nova-iorquinos esquecidos”. Verdade. O programa de governo de Blasio está centrado no combate à desigualdade social. Simples assim.
O óbvio parece, às vezes, novidade. Quem dera o PT pudesse – tivesse coragem – de propor uma plataforma semelhante para Belém, ou para outras cidades brasileiras.
Blasio venceu (ou melhor, esmagou) seu adversário republicano, Joe Lhota, com 73% dos votos válidos, o equivalente a 40 pontos percentuais de diferença. Desde 1994, com a eleição de Rudolf Giuliani, Nova York não tinha um prefeito democrata.
Blasio é um ítalo-americano de 52 anos. Tem pouquíssima experiência na política: somente um mandato de “mediador” – que consiste em receber reclamações dos cidadãos e levá-las ao conselho municipal. Só e mais nada.
Ganhou com a força do discurso, capaz de criá-lo como um antípoda de Bloomberg. Depois de 12 anos, é natural o desejo de mudança, e Blasio soube explorer esse desejo. Lógico, também ajudou a sua a sua simpática família, composta por uma escritora feminista negra, Chirlane McCray e por um casal de filhos bastante mediáticos. Todos participaram da campanha com afinco.
Tudo isso conta, mas não contaria se não fosse a clareza da sua mensagem de diferença. Durante toda a campanha ele repetiu, como um mantra: “Eu sou um homem de esquerda, que crê na intervenção do Estado”.
E vinha atrás a lista de compromissos de esquerda, para provar sua seriedade: 
  • aumentar os impostos dos mais ricos para financiar a universalização de creches e de escolas maternais para as crianças de até 4 anos; 
  • cantina gratuita nas escolas; 
  • construção de 80 mil alojamentos sociais; 
  • grandes investimentos na saúde pública; 
  • apoio às micro-empresas.

O que podemos aprender com isso? Lições de uma cidade como Nova York podem servir para cidades como Belém? Sim e não. É claro que não dá para comparar as duas cidades na grande maioria dos quesitos, pois são realidades completamente diferentes, mas há uma curiosa semelhança: a pobreza... Esses 46% de pessoas que vivem em situação de risco social...
Bom, vou desdobrar o tema. Prometo dois posts, nos próximos dias, sobre o tema: um para comentar a gestão de 12 anos de Michael Bloomberg como prefeito e outro para comentar os compromissos de Bill de Blasio e as lições que eles podem nos dar.